Por Ascânio Brandão.

Os autores apontam alguns remédios para a salvação de uma alma tíbia.

Primeiro remédio: reconhecer a tibieza.

Esta descoberta se faz pela meditação e pelo exame de consciência. Descobrir que somos tíbios é uma graça. E das maiores. E o presságio de uma cura miraculosa. Estaremos, porém, perdidos, se não agirmos logo com vigor, com prontidão e energia, ao fazermos esta assustadora descoberta. Ao perceber este estado de alma, a pessoa deve imediatamente, sem demora, recorrer à oração, e colocar mãos à obra.

Segundo Remédio: fazer o que foi omitido e fazê-lo bem.

A omissão das práticas de piedade foi a causa da tibieza. Pois bem. É preciso fazer, sem demora, com energia, tudo o que se omitiu, custe o que custar. É difícil, mas não é impossível.

Experimentar pelo menos um dia de fidelidade absoluta e intransigente a todas as práticas piedosas abandonadas. A dificuldade vai diminuir com o tempo. Depois, entrar na luta contra a preguiça, a rotina, o mau hábito. Não desanimar. Que não falte pelo menos a boa vontade. Coragem! Confiança!

3° Remédio: fazer tudo com método e com pureza de intenção.

Para o método, nada melhor que uma boa e criteriosa agenda particular, e nela marcar a hora da meditação. E fazê-la, custe o que custar. Com isto, a pessoa tíbia se há de salvar. Da pureza de intenção, já falamos. Resta praticá-la.

4° remédio: meditação cotidiana.

Todos os outros exercícios de piedade, que o tíbio recomeça quando se esforça por sair do seu lastimoso estado, possuem a sua eficácia. Nenhum, porém,
como a meditação. Tibieza e meditação não podem andar juntas. Uma ou outra há de perecer.

Na meditação, se abrasa o fogo da caridade, que é o fervor. Meia hora de meditação cotidiana, bem preparada, e bem feita, eis o remédio soberano e específico da tibieza. A meditação bem feita é o alimento substancial do regime a que se deve submeter a alma enfraquecida pela tibieza.

5° Remédio: uma penitência depois de cada falta.

Examinar qual o pecado venial que me mantém escravo da tibieza e castigá­-lo toda vez depois de cometido. Uma penitência para cada pecado. Não perdoá-lo. Sem penitência, não se sai da tibieza.

6° Remédio: a mortificação.

A tibieza se caracteriza também pelo horror ao espírito de mortificação. "Mortificai vossos membros", diz o Apóstolo São Paulo, "trazei a mortificação de
Jesus Cristo em nosso corpo". A mortificação, é a vida do Evangelho em ação e a imitação da vida de Jesus Cristo. Querer santificar-se sem mortificação, é querer o impossível. "Se alguém desaprova a penitência, diz São João da Cruz, não lhe deis crédito, ainda que faça milagres".

As pequenas mortificações cotidianas são remédio também para as pequenas faltas cotidianas. Espírito de sacrifício no cumprimento do dever. Se a meditação estiver custosa, fazei-a por mortificação. Se a oração está sendo penosa, se está difícil deixar uma sensualidade, mortificai-vos um pouco. E vereis a transformação que em breve se fará em vossa alma. A mortificação com a oração, eis o remédio soberano da tibieza.

7° Remédio: confissões e comunhões bem preparadas.

Rigoroso exame de consciência antes da confissão. A confissão do tíbio é rotineira e mal feita. Disfarça os seus pecados. Não procura uma sólida direção espiritual. Não costuma ter um confessor fixo. Confessar-se, não é para o tíbio uma mudança de vida, um firme propósito de não mais pecar: é dar um jeitinho para poder comungar.

Por isso, existem almas, no mundo e na vida religiosa, que se confessam durante anos e anos, quase toda semana, mas vivem no mais lamentável estado de
tibieza.

Depois, as comunhões sem devida preparação, sem fé, sem amor. Comunhões por rotina. Ações de graças feitas às pressas. Nem sequer um pensamento sério,
bem meditado, sobre a Presença real de Nosso Senhor na hóstia consagrada! Pobre Jesus! Que sepulcros gelados não acha Ele todo dia, no coração de tantas almas tíbias!

Para sair da tibieza, a Santa Comunhão, que no dizer do Concílio de Trento é o antídoto das faltas cotidianas, é um remédio eficaz. Mas há de ser bem preparada. A leitura espiritual, as jaculatórias, um pensamento eucarístico à noite, ao deitar, e sobretudo uma vida isenta de pecado e em luta contra
o pecado, eis aí uma excelnte preparação para as nossas Comunhões.

Tirar da rotina a confissão e a comunhão, é um passo decisivo para sair da tibieza.

8° Remédio: a devoção ao Sagrado Coração de Jesus.

"As almas tíbias, tornar-se-ão fervorosas", prometeu Nosso Senhor a Santa Margarida. É o grande milagre, o perene milagre desta devoção. O Sagrado Coração, é uma fornalha de amor, é fogo, e fogo puro da Divina Caridade. Jaculatórias ao Divino Coração, a sua imagem diante de nós, conosco em toda parte. Falar desta devoção, propagá-la, estudá-la. Não encontro meio tão eficaz e poderoso, para arrancar uma alma da tibieza. Leituras sobre o Coração de Jesus, o Exercício da Hora Santa, a entronização. Como tudo isto abrasa o coração, mesmo o mais gelado, e faz milagres de conversões. O nosso coração é matéria inflamável. Não resistirá muito tempo às chamas do Amor, nelas também se abrasará.

9° Remédio: o Rosário de Nossa Senhora.

É uma especialissima devoção, é um remédio especial. A Virgem Santíssima prometeu muitas graças a quem rezasse o seu rosário. Entre as quinze
promessas tão conhecidas para os devotos do Rosário, está esta: "O Rosário, disse Nossa Senhora, fará reflorescer as virtudes, fará conseguir misericórdia para as almas. Atrairá os corações dos homens para o céu, e os levará do amor do mundo ao amor de Deus, e os elevará aos desejos das coisas eternas". O que Nossa Senhora está prometendo com estas palavras, é justamente o fervor, que é o oposto da tibieza.

Recitai o terço. Recitai-o bem. Recitai-o como for possível, pedindo o fervor. Nossa Senhora vos concederá esta graça. Nossa senhora, disse que a devoção ao Rosário, é um grande sinal de predestinação. Rezai-o bem, com atenção e perseverança. Vereis que maravilhas ele realizará em vossas almas.

Eis aí a terapia espiritual a ser empregada. A enfermidade é grave; mas a Divina Misericórdia colocou em nossas mãos recursos para tratá-la. Usemos esses remédios, com toda a energia de que formos capazes.