No país onde a abstinência é política de governo para evitar a gravidez precoce, não parece haver pudor nas altas castas que comandam. Na terra de Macunaíma, hoje, tentam censurar livros, filmes e jornais. “ai que preguiça”, diria ele. Mas, hoje não. Hoje, na terra de Macunaíma, bradam os justos contra as formas de opressão. Hordas reagem. Riso na cara de quem protesta. É que a democracia é barreira: impede pseudo-imperadores de reinar. De barreiras eles não gostam. Pedra no caminho, espírito do tempo. Cavam, furam, batem e tentam rasgar. Despidos do que você imaginar, eles testam. Andam pra frente dando passos rumo ao passado. E brigam: presidente, governadores, ministros. E brigam: deputados, senadores, juízes. E brigam: esquerda, direita, o centro. O jornalismo resiste. Macunaíma, o herói sem nenhum caráter, descreveu os políticos como uma raça refinadíssima de doutores, tão desconhecidos, que poderiam ser chamados de monstros. Mas ele completa: monstros são quando falamos da incomparável audácia, da sapiência, da honestidade e da moral. Só que, “embora com os homens se pareçam, muito pouco têm de humanos”. Na terra de Macunaíma – hoje - Macunaíma, não teria voz e, com ele, a abstinência não funcionaria: ele é filho do medo e dos medos é difícil se abster.
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